Moska destaca a importância da TV para divulgar boa música

Cantor e compositor comanda a segunda temporada do programa ‘Encuentros en Brasil’

O Brasil é o único país de língua portuguesa das Américas. Nossos vizinhos aqui no Sul falam espanhol ou castelhano. Essa diferença idiomática interfere na interação cultural entre os povos.

A maioria dos brasileiros não demonstra interesse por música genuinamente latina. Prefere canções em inglês, ainda que não compreenda bem as letras.

O programa ‘Encuentros en Brasil’ é uma excelente iniciativa de inserir por aqui artistas de língua hispânica e abrir nossa mente à sonora latinidade.

Na atração do canal HBO Max Up, cantores-compositores de nações vizinhas apresentam uma música inédita sobre o Brasil, criada especialmente para a série. A segunda temporada começa hoje às 22h40.

Serão exibidos dois episódios por semana, com artistas latinos em viagem pelo País para ter experiências culturais e turísticas.

Os convidados da vez são o uruguaio Roberto Musso (desbravando Brasília e São Paulo); o colombiano Juan Pablo Vega (viajando por Recife e litoral de Pernambuco/Alagoas); a chilena Camila Moreno (no Rio de Janeiro e em Paraty); o argentino Lisandro Aristimuño (em Florianópolis e na Serra Catarinense); e o mexicano Paulino Monroy (circulando por Salvador e Porto Seguro/Trancoso).

O blog conversou com Paulinho Moska, apresentador e curador do programa.

A TV reduziu muito o espaço dedicado à música e aos cantores em geral. Qual a importância de um programa como o ‘Encuentros en Brasil’?

É uma série bem diferente de um programa de TV normal, onde geralmente os artistas apresentam seus sucessos. Criar uma canção, gravá-la num estúdio e filmar um clipe dela em terras brasileiras é uma experiência única para os artistas latinos que participam do ‘Encuentros em Brasil’. E nós assistimos a tudo isso de camarote.

Na sua opinião, por que a maioria dos brasileiros tem pouco interesse na música e na cultura dos países vizinhos?

Vejo a causa desse problema por dois lados: o primeiro é o fato de o Brasil ser um País muito grande, com uma cultura multiplural e extremamente autossuficiente. Somos muitos ‘Brasis’. E como tudo aqui é exuberante, geralmente não nos sobra muito interesse sobre o que está acontecendo na ‘vizinhança’. Por outro lado, vejo poucas iniciativas por aqui para promover o contato com o mundo latino. O preconceito com os hermanos e a subserviência cultural aos Estados Unidos e à Europa nos cegam e nos ensurdecem em relação à cultura latino-americana. É lamentável, porque assim nos enfraquecemos como continente e como povo. A série tenta sugerir que esse tão necessário encontro possa se dar de forma mais efetiva e contundente, através da arte, da música e da poesia.

Dos 10 episódios de ‘Encuentros em Brasil’, quais você destaca?

Essa é a pergunta mais difícil, porque cada artista convidado tem sua própria força, e eu os escolho principalmente pela capacidade de serem únicos e poderosos. Alguns se destacam pela sutileza, outros, pelo exagero. Uns são mais poéticos, outros, mais performáticos. Há tanta diversidade no mundo latino quanto no Brasil.

Você já esteve em algumas trilhas de novelas, como ‘O Fim do Mundo’, ‘Laços de Família’ e ‘Império’. Acha que a teledramaturgia é uma boa plataforma para divulgação de músicos com trabalho autoral?

O audiovisual se tornou o maior veículo contemporâneo para divulgação de música. Não só nas novelas, mas também nos filmes, séries e canais de plataformas como o YouTube. Podemos considerar que estamos na era da ‘música visual’. Não é mais só som, mas também imagem. O Brasil faz as melhores novelas do mundo, sempre ganham prêmios internacionais, e é realmente um privilégio eu ter algumas músicas minhas nas trilhas. Como utilizo muitas metáforas nas minhas letras, minhas canções acabam servindo para potencializar a dramaturgia das cenas.

Qual seu trabalho em TV que o deixou mais satisfeito?

Apresento a série ‘Zoombido’ no Canal Brasil há 12 anos (toda quinta às 21h30). Nela, eu converso com compositores e cantores sobre seus processos de composição. Cada convidado canta três canções autorais e eu faço um dueto tocando e cantando com eles, além de fotografá-los através de um tijolo de vidro que gera um retrato muito diferente e expressivo. Já estive com mais de 270 artistas. É o meu maior orgulho na TV.